mas acordei com o corpo em reticencias e espasmos.
Levantei de súbito, sem uma recarga vinda num lento alongamento dos músculos, como bem fazem os animais,
principalmente os felinos. E uma tontura me fez pensar que talvez o mundo naquele instante parecesse mais escuro, e estava nublado, o sol, meu energizante natural, ainda escondia-se por trás de prédios e não só de nuvens. E logo cedo choveu, mas eu sai para levar o cão para passear antes que outros cães e pessoas fóbicas começassem a encher as ruas. Andei por ruas quase desertas não fossem os jardins das grandes mansões.
voltamos para casa, ambos cansados e saudáveis, ele bebeu, comeu, e foi descansar ate normalizar a respiração, parando de arfar, dormiu, e eu, bebi apenas um copo d'agua e voltei ao conforto quente do cobertor xadrez de cores escuras seguidas por branco, para dormir mais um pouco, reconciliar o sono aos sonhos que desejo ter e nunca tenho.
Sonhei com baratas saindo do subsolo por uma grade de galeria. Saia a primeira, eu buscava meu chinelo para mata-la, mas em seguida, outra parecia decidir-se a aventurar-se em vir a superfície, e meu instinto de higiene assassina era paralisado por aquela imagem, e eu decidi apenas observar o movimento das duas baratas que não vinham em minha direcao, e esperando para saber se sairiam mais, não saiu mais nada, e eu acordei.
Foi ai que olhei o tempo cronometrando-se e devorando-se a cada segundo digitalizado, e dei aquele pulo da cama, como se houvesse alguma urgência em sair do estado de repouso e quebrando a inercia do corpo abruptamente me pus em movimento, e o mundo escureceu.
eu cambaleei um pouco dentro do meu minúsculo e precioso espaço, porem sem temor desnecessário, controlei meu pânico e resolvi tomar um banho frio porque o sol já rompia os concretos, ferros e vidros, e me aqueceria, e aquele mal estar seria lavado e levado pelo ralo. A principio a sensação foi essa, e ate senti-me melhor. Meu corpo reagia sob a agua fria, acordava deveras, talvez fosse isso, o corpo ainda estava sob o efeito do sono não satisfeito... No entanto, cá estou, o sol permeia partes desiguais com luz e sombras gigantescas, entra pela janela da sala sem atingir todos os cómodos, tampouco meu mundo. Sinto frio e uma falta não preocupante de energia.
Pretendo passar o dia apenas lendo e escrevendo, sem consumir meus venenos de praxe.
Hoje será um dia dedicado ao refugio do corpo que abriga uma alma que quer sair por ai detonando(-se)... Não, o dia hoje se estabeleceu em meu corpo com muitas nuvens negras, no entanto, para não desperdiçar nem mesmo um mal estar, eu vou estar mais em mim e tirar proveito disso, como sempre costumo tirar proveito de tudo, ate do que me impede de aproveitar-me.
"...Abre-me o sonho. Para a loucura a tenebrosa porta, que a treva é menos negra que esta luz." fernando pessoa
Pequenas correcoes que em nada alteraram o conteúdo, apenas complementos, como doses de vitaminas que penso precisar ja que continuo sentindo uma falta de elementais no meu corpo que agora quase repousa ao som do Quinteto de Oxford.