domingo, 3 de janeiro de 2010

Sem querer, Tiago...

É domingo, há sol, belo, luzindo nuvens insistentes, ofuscando-as, como negativos dourados expostos à luz.
Na entrada da Augusta, um descendente da terra dos Ribamar atende em guerra pelo nome de Alanis. Tem uma tez luminosamente cabocla, limpa e toda “Alegre”.
Pediu-me um cigarro e eu falei divertidamente do pequeno bando de almas perdidas e desavisadas que tentou me armar uma tocaia.
“Logo eu, calçada com as minhas alpercatas de cangaçeira”, Alanis mostrou-me um lindo sorriso postiço, passou a conta para Deus e eu segui, pela sombra, ligada nos movimentos, nas intenções, nas atenções, nas atuações, nos sinais, nos detalhes conjugados no singular da primeira pessoa, mas que eu posso reconfigurar, convertendo para a primeira, infinitamente abrangente em seu plural, se não for adicionado numeral.
Assim, andando pela sombra, sem prestar realmente atenção nos tons das trilhas, foi que o visualizei, repousando junto a um muro sem cor, em estado de quietude, trajando cores recorrentes à minha alucinação.
E não bastassem as cores, havia a inércia dos gestos, comunicando-o com o mundo. Ele me sorriu largamente, como quem abraça alguém que enfim, chegou.
Sorrindo eu devolvi o olhar de confidências inexistentes, e ainda assim, com tanta proximidade, e continuei andando, saboreando a cena.
Porém foi maior que eu o apelo que me retinha amansando os passos, e me fazendo olhar para trás, como quem não consegue, assim, a passos largos, abandonar um presente que ainda trafega para um passado recente. E sem conseguir não atender ao apelo que era fortemente imantado, eu retrocedi ao mesmo espaço, já dentro de outro tempo, e ele quis erguer-se, eu pedi, “não, por favor, volte à posição em que você estava . Eu posso registrar o seu descanso?”
Ele surpreendido, permitiu, e sem subtrair o sorriso, voltou a deitar perguntando, “assim?”
Eu preparei o ângulo dentro da lente, e disse, “ exatamente como você estava quando me sorriu.”
Ele obedeceu, e eu pedi que me esquecesse por alguns segundos, e eternizei o momento, como mais um detalhe da Augusta, na pessoa conjugada individualmente.
Guardei o pequeno artefato multifuncional dentro da bolsa lilás, agradeci dizendo que aquela imagem seria difundida virtualmente, e então, mais para efeito de titulo, do que de crédito, ele disse-me dentro do sorriso em despedida, “Tiago”, eu disse "obrigada" e segui, não mais pela sombra.

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