quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Uma manha de sol ameno e reflexoes frias.
Sim, sinto frio porque ainda nao comecei o dia.
Dou de mim mais do que deveria ou mais do que as pessoas estao
acostumadas a receber?
Seria preciso um retrocesso dentro de mim para que eu obtivesse a formalidade
necessaria para me adequar a esses novos tempos dentro de um novo espaco.
As vezes isso me angustia quando nao me entedia. Dai o frio nesta manha de sol.
Ou sera tudo de praxe do clima deste lugar.
As minhas vozes estao voltando uma por uma, uma ou outra eu mantenho presas.
Ate quando?
Ate que eu me reivente em uma nova voz cheia de meandros e milindres dos quais
eu nunca fui muito intima?
Ou ate eu perceber que nao adianta querer ser alem do que sou para agradar aos
que elegi como proximos e irmaos de loucura?
A liberdade e um mal a ser expurgado?
Sao tantas perguntas que me veem a cabeca e as minhas vozes tem cada uma sua propria resposta.
A AnnaLee gosta de vermelho, mas nao quer ser engolida pela Rita que grita abafada
entre as sombras das caixas uma quase justa reivindicacao.
AbraAo estava disposto a contar a sua historia, mas ele foi abatido em arena como um touro enfurecido por provocacoes levianas.
Eu mesma trabalhava numa versao paralela a do AbraAo, a minha unica voz masculina, que se entregou a ilusao de que escrevia para uma mulher conhecida Menina disfarcada em personagem do Crepax, ou, que essa versao era a versao feminina do homem que eu amo.
Confusoes e conflitos levaram AbraAo a um fim irreversivel. Pena. Ele era bom.
Rita nao compreende e nem faz forca para tal, quer sua historia contada e ameaca ressurgir cada vez que eu penso em vermelho, e AnnaLee nao me deixa sequer voltar a ler o Pamuk no seu Eu Vermelho, que era olivro de cabeceira dela, da Rita.
AnnaLee julga, condena e/ou vinga cada uma dessas vozes caladas, talvez apenas ela permaneca mais ou menos invulneravel a tudo e a todas, mas se for ela a contar a historia da Rita a coisa toda parecera muito mais conturbadamente macabra.
Voltando a cuidar de um novo lar, quem parece querer estar em evidencia e a Rute.
Mas na sua rude e estabanada forma de ver e viver o mundo aqui fora, ela sai espalhando sustos e tensoes, preconceitos e reacoes adversas ao que ela espera receber das pessoas como resposta.
Lais volta de um sonho, compra amoras, escreve e-mail direcionado e metaforico, e depois adormece em si mesmo dentro de mim. Ha cautela nos sentimentos de Lais, e talvez ela fosse melhor aceita porque nao lhe custa certas formalidades, apesar de ignora-las por vezes.
Penso que de todas, e a Rute quem esta mais proxima de mim, e que sabera se sair melhor dessa teia de preconceitos e medos que causa a minha natural altivez em ser o que sou e acabou.
O mundo e tao diversificado e as pessoas limitam-se a serem apenas Um individuo de cada vez.
Nao e que eu tenha um mega Ego que precisa se sub-dividir em varios pequenos Egos, e apenas a minha porta de saida, varias portas, alias, que me permitem nao ser sufocada por essa gama de energia diferenciada que trago dentro de mim.
Isso pode parecer esquesito e incompreensivel ate mesmo para quem e acostumado a estudar mentes doentes, mas nao para mim.
Eu, como Dora Nascimento, me vejo muito comum, e ate igual dentro do contexto de normalidade humana, mas isso diante da visao que tenho da normalidade humana.
Eu me recrio e conto a minha propria historia em ritmo de ficcao porque assim fica mais facil as pessoas nao se amedrontarem com que vem de mim.
Nao me vejo mudando linguagem nem figurino, existo dentro do que concebo como real, e penso nisso sem enfado nem entusiasmo, apenas penso, porque existo dentro dessa logica toda estruturada dentro de uma sociedade que se adequou a um sistema de normalizacao que explora algumas regras basicas de convivencia e extirpa ou ignora o que foje a elas.
Estou cansada e apenas acabei de chegar.
Nao tenho amigos fora de mim ou fora da minha casa.
E dentro de mim tenho muitas de mim, e dentro de casa tenho apenas a Mari.
A solidao me ajuda a respirar esse ar pesado de formalidades que esfria ainda mais os dias por aqui.
Uma hora qualquer, eu sei, eu encontrarei as pessoas capazes de nao me estranharem e nem quererem moldar meu jeito de ser para um ajuste adequado as leis de convivencia formal deste lugar.

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