quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

uma segunda-feira qualquer

É bom poder escolher uma fonte, uma cor, ou ficar mesmo na neutralidade do preto, e depois de uma xícara de café quente e forte o suficiente apenas para despertar, e não forte de amargar e doer o saborear, escrever qualquer coisa que eu queira dizer, e o digo para mim.

Na falta do que pensar para iniciar prosa, começei com a escolha da fonte. A música não ajuda, mas há sempre a opção de querer música ou não, e a música fica dependendo de ser aceita de acordo com o estado em que a alma pede que o corpo se prepare para que ela possa falar.
A alma pode perfeitamente exigir silêncio máximo possível.

Mas hoje eu amanheci bem. Não espontaneamente feliz, mas bem.
E mesmo assim, ouvi pouca música, ouvi a mim mesma e criei coisas boas, algumas interessantes e outras peças alegres como um dia de festa.

E agora que já escolhi a fonte e optei por continuar na neutralidade equilibrada que há nos opostos extremos, eu resolvi com apenas um toque, deixar que a voz do rapaz de dentes imperfeitos atravesse mecanismos minúsculos e cheguem até mim.
O pulsar dele me acalma.
Não tenho mesmo nada de muito urgente ou válido para escrever, apenas sigo o desejo de dizer.
Qualquer coisa à toa, mas está frio aqui dentro e eu me limitei a me interiorizar preguiçosamente sobre poltronas, sofás, camas, cadeiras...
Há um que de tédio antecedendo pequenos temporais, eu sei, mas sei também que esse estar reclusa vem aos poucos me fortalecendo para os ventos que hão de entrar pelas portas do meu abismo e me fazer doer, e doendo assumir entre lágrimas e fúrias que toda culpa sempre foi minha,
mesmo que isso nunca venha a isentar ninguém de sua própria participação na minha culpa.
Acho que não quero mais ouvir a chuva cósmica que a voz do rapaz derrama sobre meu pulso, porque isso me desorienta de mim, e eu começo a deixar entrar pelas portas do abismo outras almas que tanto me atormentam... É melhor não continuar por aqui... Vou sair...

“Yes...” Que me faz lembrar muito uns caminhos errados pelos quais nunca mais passarei, mas sempre que ouço “Yes”, abre-se uma porta para trás e eu estou lá de novo... Ah, que delícia é a relatividade do tempo.
Há uma reserva de portas que me levam de volta no tempo, e que só algumas músicas funcionam como chaves, como esta que acabou de tocar.
Ainda não consigo dizer muita coisa, estou dispersa, tenho medo de ficar naquela insistência prolixa e cansativa que não leva a nenhum entre tanto, a nenhum conto de nenhum canto.
Mas quero dizer e não há quem ouça, e eu estou sem vontade de ir ver outros mundos, estou sentindo o mundo ao meu redor muito mais frio lá fora do que aqui dentro da casa e de mim.
Agora volto para a cama porque é isso que o corpo insiste em querer e a alma não tem força para insistir, também quer apenas ficar dentro do corpo e em outras histórias se aquecer até quase lá mesmo existir.
O café acabou e não existem cigarros neste momento, porque não devem existir, não aqui dentro, melhor assim, não me enveneno hoje, não hei de morrer em crise de abstinência, não é por aí, estou sem motivação alguma para sair em busca de satisfação, hoje eu viverei aparentemente saudável, e passarei bem, e no caso de um acesso, nunca me falta um pedaço de chocolate amargo, outra fonte de prazer menos ofensivo.

(Fechando com o Soul Man do San Davis Jr. Que tinha uma alma elétrica e amplificada, ao menos nos muitos e variados palcos.)

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