quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Um conto banal nada marginal, e incompleto.

O sangue jorrava bem roteirizado do pescoço de um Brutus muito bem interpretado e dirigido, quando repentinamente, o telefone tocou.
Pausa.
Olhares indagadores.
Num raio ela,
“eu não estou” me passando o telefone.
Cumprimentos rápidos e uma historia naquele instante um tanto quanto incompreensível e destoante em qualquer coisa que a urgência em voltar à Roma não permitia visualizar com clareza.
Com rapidez conseguiu se desenlaçar daquela historia de cabeça-quebrada.
Antes do play ela franziu o cenho e com olhar arqueado indagou sem palavras, eu respondi rapidamente, “Joyce perdeu seu par de escarpam”.
Ela entortando a boca grunhiu “ah...”
Então voltamos à Republica dos Césares, para despudoradamente suspirarmos na nudez bela e masculamente arrogante do Marco Antonio, ali, todo bem da cabeça aos representados pés.
Depois de muito sangue, corrupção, matança, vingança, maldição e luxuria, nós estávamos cada uma com a sua alma leve o suficiente para irmos dormir com aquela sensação de quem descarregou uma alta dose de adrenalina e inspira profundamente o deleite do prazer, nos despedimos e fomos para nossos mundos secretos.
Foi então que eu disse, “é preciso visualizar melhor a cena sem pés na minha cabeça”, e liguei para aquele amigo acolhedor de pobres moças indefesas, soltas por motivos variados, como variedades das ruas.
Vulneráveis.
Ele gaguejou procurando as mesmas palavras da primeira versão.
Eu não acreditei em nada, mas também sei mentir com aquela sinceridade de sempre, e ele passou o telefone para a Joyce.
Sua voz tinha o tom educadamente doce de moça bem nascida, ou era apenas uma mera exceção fazendo parte da exclusão.
Suave.
Contou-me em manhosas interpretações sofríveis, que havia sido assaltada, e que ela precisava de um novo par de escarpam.
Joyce precisava mesmo era de se tornar uma aspirante aprendiz de um bom teatro, mas ela soava inseguramente,
Amadora.
Eu precisei contar até dez, quando cheguei ao quinta parte do suportavel eu descarreguei, em voltagem amena, que em meu armário ela não encontraria nada que combinasse com pesinhos acostumados à maciez elegante de um escarpam.
Mas não sei por que, tive a impressão de que Joyce, por motivo qualquer que na minha cabeça não tinha pé, simplesmente queria ou precisava me ver.
Não insistiu.
Pareceu-me que algo de coragem lhe fugiu quando ela me ouviu, ou foi apenas o meu tom de desconfiança que soou muito como muro de proteção adornado com cerca viva;
Não sei, desisti.
Em todo o caso Joyce atiçou minha curiosidade sóbria, e eu gostaria de continuar a historia...
É que a Joyce tem meu telefone, e já sabe em que lado do lugar com muitos jardins, eu moro.


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