terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Rotinas

Acordou na sua solidão ainda sonolenta, pensando em pequenos ruminantes pastando sapiências e espinhos contemporâneos.

A ambígua língua da Mídia salvando tudo, até mesmo os pecados do mundo, reciclando, moldando, distorcendo, reinventando, contando, condenando, absolvendo, e mostrando, e mostrando... Tudo em nome da Evolutiva formação de opinião.
Ainda assim, e apesar do frio saboreando a preguiça era preciso levantar, e sem um horizonte onde pudesse buscar na cor da barra do dia uma previsão climática possível, olhou pela janela na direção onde nascera o sol por hora encoberto, e alegrou-se em ver tons luminosos por trás de nuvens brandas, era um dia quase branco-gelo, mas havia por ali uma promessa morna de luz quente.
Então tomou um banho apenas com a frieza quebrando-se amornada sobre os poros ainda adormecidos, pensou na noite em que viria e queria estar com disposição para sair, sorrir, ver... Mundos vívidos, ou apenas seus intérpretes de outras vivências.
Tantas ciências e seu mundo guardado em contidas inconstâncias que precisavam também ser verbalizadas.
Saiu do banho apostando na luminosidade aquecendo suas entranhas e suas estranhas sensações, dando-lhe algum ânimo, então exagerou no minimalismo das roupas e foi à padaria, curtindo o olhar espantado das pessoas, e para espanto seu, o espanto era geral e então olhou mais uma vez para o céu buscando um apoio, bruscamente entendeu porque apesar do ânimo, sentia tanto frio.
A resposta chumbava o céu e não havia sinal de possível volta de luz, ao menos, não por horas adiante.
Voltou para casa quase correndo e não olhando para ninguém, para que ninguém captasse o ridículo estampado em seu semblante trêmulo. Mas em nenhum momento se encolheu.
Entrou, passou um café e vestiu mais duas peças aquecendo também os pés.
Abriu o jornal sem muito interesse, leu apenas as chamadas, tanta mesmice que pulou para as notícias do “cotidiano”, onde um homem entendido de Leis é flagrado corrompendo corpos adolescentes de – “pobres” - crianças.
Teve vontade de cuspir para expiar sua repugnância, mas havia tantos lados de uma mesma história que resolveu lembrar-se de que a vida é um emaranhado de escolhas, e o mundo é feito por humanos corrompidos, terminou seu café e começou a trabalhar pensando na solidão dos seus atos às escondidas dos ruminantes...

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