domingo, 27 de dezembro de 2009

Ontem foi a minha tarde de Oz.

Em casa o clima tendia para a mesmice obrigatória em dia útil, então eu disse delicada, mas decididamente, “não”, contatei meu intuito com o do Nômade vindo da terra do Leite, que saboreia a terra do Café, e ele disse, “Ok”. Botei na bolsa uma caixa contendo cigarrilhas Talvis que eu ganhei de um santista centrado, musicas compactadas em disco, uma porção da grande quantidade de chocolate doce que ganhei de uma Querida Apimentada, vesti-me em verde e neutralidades e segui rumo à 15 de Novembro.
O Nômade tem um sorriso que dá vontade de beber, e dedos longos e unhas limpas, além da voz máscula assegurando que eu posso confiar. Não estava sozinho, quase nunca está, sentei cumprimentando sem me apresentar diretamente, estava excitada, e dei os presentes ao Nômade, mas fiz questão de dizer que os Tavis deveriam ser distribuídos entre os outros, da Augusta, da Av. São João... Ele gargalhou concordando que seria até pecado ficar com tudo apenas para seu prazer que talvez não apreciasse tanto assim os Talvis. Seus olhos brilharam infantis quando viram os chocolates saudosos. Seu coração me enlaçou em braços mornos agradecendo as musicas compactadas dentro do disco.
Então, não querendo esperar, o Nômande dividiu alguns dos Talvis com o artesão com quem dividia, naquele dia, o seu ponto, e a medida que alguns passantes condizentes com as condições que as ruas lhes oferecem como subsistência paravam, se fosse o caso, oferecíamos um Talvis. Quando eu comecei a distribuir, fui dizendo assim, “Com os cumprimentos do Sr. Rubem Fonseca” mesmo sabendo que para nenhum deles fazia a menor diferença ou sentido o nome que eu mencionava, mas bastava ao meu delírio, saber que o Sr. Ruben Fonseca sabe – como poucos - observar a escoria e saber captar e reescrevê-las sem sentimentalismo o que os seus sentidos puderem absorver desta ou daquela existência e suas reações exteriorizadas ao mundo, e suas correlações com o que é sociavelmente aceito como normalidade e anomalia, por vezes não importando a classe, mas é que nas altas esferas as anomalias são exteriorizadas como requintadas excentricidades. Quando extrapolando esse tênue limite, tratamentos com neurofarmacologicos licitos e apropriados, por vezes, resolvem.
De volta às ruas, Oz se mostrou emoldurado em muitas portas sem casas que sempre abertas, me convidavam a tomar acento no pedaço de chão que me cabia. Tomamos cerveja preta com chocolate e nenhum Tavis foi aceso porque nossa carência pedia outros artifícios, e a conversa sobre assuntos diversos fluía descontraidamente, o movimento das pessoas era intenso e isso era salutar para os pequenos negócios do Nômade que possui na lábia uma língua que parece adocicar suavemente as palavras, e quando deixa a luz ver seus olhos verdes como duas esmeraldas sobre o tecido em bronze e chocolate da sua pele curtida, eu prefiro fugir um pouco para dentro dos vitrais distantes, poucas delas – ou deles – resistem em sair sem deixá-lo com um pouco do vil metal como recompensa pela exposição, um tanto inconsciente até, da satisfação por ligeiros momentos, alcançada. Cada venda dele é um tipo de conquista diferente.
No final ele me presenteou com um artifício quase puro cheirando a natural, na medida do possível estando eu morando em paragens distantes do Velho Chico.
E só quando já estava de saída é que me dei conta que não sabia alguns nomes, então me despedi dizendo por fim o meu.
Sequer usei meus sapatinhos vermelhos, mas encontrei caminhos ótimos antes de voltar para o meu mundinho claustrofóbico feito de solidão e delírios.
Garoava.

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